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Isto não é um cachimbo |
Existe diferença
entre o que as coisas são e aquilo que elas representam. Era isto que o artista
plástico René Magritte (1898-1967) quis dizer com sua série de pinturas
intitulada A Traição das Imagens,
concebidas entre 1928 e 1929, onde quis mostrar o papel da arte e não ser um
contrassenso. A mais famosa das imagens trás um cachimbo e uma legenda em
francês que diz: “Ceci n’est pás une Pipe”,
que em bom Português significa “isto não é um cachimbo”.
A imagem e sua legenda
controversa causou frenesi nos colecionadores e críticos de arte da época. Que
coisa mais nonsense dizer que um
cachimbo não é um cachimbo, era a idéia que corria nas rodas de conversa. Mas,
Magritte estava certo em sua intenção e sua concepção: Ninguém pode fumar um
quadro. Qualquer pessoa pode fumar um cachimbo mas não um cachimbo pintado na
tela. No fim das contas, o que o artista belga queria dizer é que aquilo era
uma imagem de um cachimbo e não um cachimbo.
Voltando do trabalho,
pegando carona em um caminhão eu ouvia a rádio Jacobina FM, e o locutor
entrevistava um vereador que protestava contra a não aprovação de um projeto
que visava presentear os munícipes com as escrituras de suas casas e apelavam
que os edis que se colocaram contra a medida ligassem para se justificar. Um
deles, vulgo Rony do Junco (PT) ligou e justificou sua decisão e dos colegas,
que na verdade se colocaram contra o endividamento do município para tocar tal
projeto. Em certo momento da ligação, vereador e locutor entabularam uma
discussão sobre a reputação do PT – agremiação partidária do edil – e na hora o
cachimbo de René se desenhou na minha mente.
O vereador afirmava
que o Partido dos Trabalhadores é inocente de toda a lama que protagoniza de
2005 pra cá. Com dois tesoureiros presos, outros membros da alta cúpula na
mesma situação e seus principais ídolos sendo alvos de críticas e protestos, é
difícil acreditar nessa história pra boi dormir. O edil justificou sua defesa
da mesma maneira que grande fatia dos militantes do PT vem fazendo, a de que o
partido está limpando a casa, que está prendendo os criminosos que estão sendo
investigados por corrupção. Ponto pra eles, mas isso também prova que existem
ladrões dentro do partido e não tira o rótulo de um dos partidos mais corruptos
da história. Quanto a afirmação de que está limpando a casa, concordo, mas não parabenizo,
pois não fazem nada mais que a obrigação. Sujou, limpe. E não me venham com a
conversa de que “o inferno são os outros”, e que foi o PSDB o causador de tudo.
O tucano é tão cobra criada quanto a estrela vermelha e cada um criaram seus escândalos
e ladrões à própria imagem e semelhança.
A oratória de Rony do
Junco resumiu-se em afirmar que todo mundo algum dia confiou em alguém que veio
a trair-lhe, que o partido passou por isso e que as pessoas são culpadas, o
partido, não. Seguindo um raciocino lógico, ele está certo, mas é diferente do
problema do quadro de Magritte: um quadro é feito de tinta e tela, um partido é
feito de pessoas. Vereador, sua retórica foi fraca
Mas essa é a arte de
alguns políticos, a de fazer a coisa na sua cara e negar terem feito, tal como
a criança travessa e mentirosa que mesmo tendo a boca e mãos sujas de migalhas
negam para a mãe que comeram o biscoito: não fui eu mamãe, foram minhas mãos e
minha boca. Estamos vendo o país afundado numa crise financeira que ainda se
inicia e ainda assim vemos propagandas cara-de-pau de que tudo está indo bem.
Estamos vendo o rombo na Petrobrás crescer a cada dia e ainda temos que encarar
fanáticos postarem fotos e links que afirmam que a empresa está crescendo.
Anos atrás alguém
disse que não estamos diante de uma crise e sim de uma marolinha. Ao olhar para
o quadro de Magritte, você não vê um cachimbo e sim a representação de um. Fato.
Mas, olhar para um partido que precisa prender seus dirigentes e dizer que o
mesmo não tem nada com isso e não sabia de nada é tentar fazer o povo de besta.
Mas o pior, é que na
maioria das vezes funciona.
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