Eu gosto de observar construções quando estou viajando, principalmente quando se trata de obras públicas, voltadas ao bem estar da população. Nestas ocasiões, ao ver ginásios, estradas, praças e outras edificações, não deixo de sentir inveja, pois raramente tais benefícios chegam à minha cidade. Em algumas conversas, já me perguntaram o motivo de São José do Jacuípe não receber obras e a resposta que dou é a mesma que a prefeita já havia dado em praça pública: “o municípo está com o CPF sujo”.
Para quem não entendeu a metáfora usada pela gestora, traduzi-la-ei (com verborragia e tudo): o município está inadimplente. Trocando em miúdos: não está pagando as contas que tem. Por isso a descabida colocação, mas o quadro é justamente esse, se a cidade fosse uma pessoa física, estaria com o nome no SCPC, no SERASA, na lista de velhacos da cantina, etc. Seria cômico se não fosse gravemente trágico.
Grande parte dessa situação se deve à falta de pagamento do parcelamento dos rombos da Caixa de Previdência, órgão espoliado por diversas gestões, cujos débitos foram negociados e empurrados com a barriga por quase todos, inclusive pela gestão atual que mesmo diante do projeto de parcelamento apresentado pela atual diretora do setor, não honrou o compromisso aprovado pela câmara. Daí não tem CPF que fique limpo e os convênios param de vir, as verbas param de chegar e o "municípo" permanece no marasmo de sempre. Alguns inocentes úteis já andaram dizendo que o importante é que se faz com recursos próprios e não por meio de convênios. "Que burros, dá zero pra eles". Manter um alinhamento com as esferas estaduais e federais para receber benefícios para o município é algo de extrema importância, pois poucas são as cidades com arrecadação suficiente para se manter e realizar obras.
Mas e as obras feitas? Ginásio do colégio, calçamentos, populares, farmácia popular, etc? Todas foram heranças da gestão anterior, conseguidas mediante projetos e convênios. De iniciativa própria da gestão atual (que felizmente se finda em poucos dias), temos o muro do cemitério, feito na marra e as duas praças em Itatiaia (muito bonitas e bem feitas, por sinal, parabéns), mas se há algo mais, me perdoem, pois desconheço e dispenso os desabafos críticos de qualquer que seja o assecla da turma o compromisso.
O que incomoda em toda essa situação, além da inadimplência que trava o desenvolvimento do município, é o comodismo com a situação. Não adianta de nada falar na frente do governador a respeito da situação fiscal em que se encontra a cidade e não dar um prego numa barra de sabão para resolver. Seria natural tentar a limpar o "CPF sujo" para mostrar o mínimo de compromisso com o povo. Triste. O novo gestor não herdará obra nenhuma e nem convênio dessa gestão pífia, que já passou da hora de acabar. Mas para a turma do compromisso está tudo bem, mesmo quando o barco siga afundando, pois o importante é que o governador tenha recebido os bodes.