Ao completar 30 anos, partilho um pouco do que vi
São 23:22 de uma
quarta-feira, 29 de maio. Uma data simbólica: Hoje é 29 e eu tenho vinte e nove
anos. Amanhã é dia 30 e eu farei trinta anos exatamente. Aqui nestes últimos
minutos desta idade que jamais voltarei a ter, mergulho no bojo de minha
memória para reviver minhas três décadas de vida.
Vi muita coisa, e tantas
outras não vi por falta de oportunidade, mas posso compartilhar muitas
experiências com os mais novos e mesmo com os de mesma idade. Não vou me
importar com uma cronologia dos fatos, até porque sequencias são às vezes
causadoras de madorna. Construa-se então uma teia de informações que pulula
entre os anos.
1983 não foi um ano
muito glorioso, que eu saiba não ocorreram grandes coisas. Não quero aqui
menosprezar os que junto comigo vieram ao mundo nesse período, mas ali,
espremido entre a realização da copa da Espanha e as olimpíadas de Los Angeles,
faltam-lhe talvez méritos esportivos, ou mesmo políticos de que possa gabar-se.
Mas foi neste ano que nasci, e por isso ele é para mim mais especial que os
demais tantos decorridos.
Embora não tenha a
nítida lembrança, rica em detalhes, mas ainda recordo com muita segurança de
quando a rede Manchete abocanhava a audiência da criançada exibindo Jaspion,
Jiraya, Flashman, Changeman e Lion Man; nessa época todo menino queria ir
visitar o Japão, inclusive eu que cheguei a fazer tal promessa à minha mãe,
comprometendo-me a cumpri-la somente após a sua morte para que ela não se
entristecesse. E sim, eu me lembro das músicas e dos nomes dos personagens de
seriados japoneses. Trinta anos meu chapa. Essa idade me permite compartilhar
certas antiguidades televisivas com meus leitores.
Por exemplo Papai Smurf
e Gargamel, He-man, She-ha, Esqueleto, Rordax, Gorpo e Gato Guerreiro. Chaves e
Chapolin Colorado ainda eram novidade quando comecei a assistir – embora não
pecam a graça mesmo repetido pela milionésima vez.
A criançada de hoje
assiste uma sombra de humor chamado Turma do Didi, mas eu tive o privilégio de
ver o quarteto completo em ação: Didi, Dedé, Mussum e Zacarias (que saudade!).
Poucos sabem o que ter essa lembrança. A Praça é Nossa ainda tinha a Velha
Surda, Explicadinho e Mauro Maurício de Araraquara (os originais). Escolinha do
Professor Raimundo? Melhor fase: 1990 e 1991.
Já que citei estes anos,
falemos deles. Triste dia, Argentina 1 x 0 Brasil, gol de Caniggia e a seleção
canarinho volta pra casa nas oitavas de final da copa da Itália(1990). Alemanha
tri campeã. Mais tarde, a segunda guerra do Golfo inicia a eterna inimizade
entre Saddan e a dinastia Bush, eu não sabia o que significava, mas assistia
diariamente os plantões da Rede Globo dando as últimas informações. Vira o ano,
e em 1991, enquanto eu cursava a segunda série (Pró Vilma), a União Soviética
se desmantela, acaba a guerra fria e os EUA iniciam sua colonização cultural no
mundo. Naquele ano o Brasil se despede do eterno aprendiz. Morre Gonzaguinha.
Voltando a falar em
televisão, eu me lembro da banana dada ao Brasil por Marco Aurélio (Reginaldo
Faria) na novela Vale Tudo, assisti no mesmo folhetim a revelação do assassino
– assassina - de Odete Roitman, tinha medo da sucuri da novela Pantanal e acompanhei
de cabo a rabo a primeira versão de Carrossel, que hoje enche os olhos de minha
filha. Céus! Eu assisti a primeira aparição de Sandy e Júnior na TV e fiquei
careca de ver a Xuxa sair e entrar naquele disco voador do programa dela. Assisti
a estreia da cachorrada da TV Colosso em 1997 – JF, Capachão, Borges, os
Gilmares e Priscila. Respeitem-me, sou vivido.
As novas gerações com
certeza olharão com estranheza quando eu disser que vi Kátia – a cantora cega –
cantar “ não está sendo fácil”, e
certos nomes de programas como Globo de Ouro, TV Pirata, Elo Perdido,
Glub-Glub, Topogiggio e Casal 20 soarão como música fora de moda.
Por falar em música, na
minha época também haviam artistas descartáveis que ficavam um ano no auge e
depois entravam em declínio, a diferença é que as letras das músicas faziam
algum sentido e as que possuíam algum despudor se davam ao respeito de
camuflar. O forró era o pé-de-serra, e as bandas do estilo não possuíam nomes
sensualizados e cheios de erros ortográficos. A moda era Menudo, Dominó, Yahoo,
Polegar, Banana Split e bandas que se consagraram na década de 80. Nos anos
noventa começaram a esculhambar a música da Bahia com o surgimento de É o Tchan
e similares.
Nos livros de História
do Ensino Médio os estudantes aprendem sobre a queda do Muro de Berlim, eu vi a
transmissão do acontecimento, mesmo sem me dar conta que aquilo punha fim a uma
era de separação iniciada no fim da Segunda Guerra Mundial. Era o ano de 1989,
quando os brasileiros voltaram a ter o gosto de votar para presidente. Não
quiseram o “Lula-lá, brilha uma estrela...” e elegeram Collor, que 3 anos
depois, 1992, sofreu impeachment por
corrupção. Caras Pintadas, a maior manifestação jovem/estudantil da história.
Foi também em 1992 que o vôlei masculino do Brasil abocanhou a medalha de ouro
nas olimpíadas de Barcelona e Ayton Senna consagrou-se tri campeão de Fórmula
1, e adivinhem(?), assisti as duas conquistas.
Dois anos mais tarde
assisti também – com muito peso no coração – o cavaleiro do asfalto bater forte
em uma curva no circuito de Ímola para morrer horas depois. Era um 1 maio. Mas
1994 também trouxe alegria, o Brasil foi tetra campeão mundial de futebol,
Dunga levantou a taça no fim do jogo contra a Itália – abençoado Baggio que
bateu mal aquele pênalti. Nesse mesmo ano o Real começou a correr no Brasil
dando fim a um período negro de instabilidade econômica. No fim do ano, o pai
do formidável plano – FHC – venceu Lula nas campanhas presidenciais. Quatro
anos mais tarde marca dois a zero.
Tecnologia? Joguei
Atari, Master System e Super Nintendo meu camarada! Também joguei naqueles
enormes fliperamas de ficha – era uma fila enorme. No meu tempo não tinha
internet e as televisões mudavam de canal por meio de um botão giratório que
parecia uma catraca, o volume também servia de on/off e nesses idos não
experimentei crise de abstinência do Facebook. TV colorida conheci já garoto,
minha filha nasceu na era do LCD, 3D, LED onde os relacionamentos são mais
digitais e menos carnais.
Os acontecimentos do
século 21 ainda são recentes e eu creio que não há necessidade de rememora-los,
mas basta falar que assisti pela TV o momento da queda das torres gêmeas do
Wolrd Trade Center e vi os EUA iniciarem a disseminação de ódio contra os
árabes. Basta também falar do penta em 2002, Lula finalmente eleito presidente
no mesmo ano, João Paulo II morreu em 2005 e em minha vida pessoal fui morar em
BH no fim deste. Em 2006 me casei e tornei-me pai – meu maior sucesso.
Publiquei meu primeiro livro em 2003, concluí o Magistério em 2000, graduei em
2012 – ontem isso.
A verdade é que já vi
muita coisa. Brasil ganhar duas copas, perder quatro, seis eleições
presidenciais, um Papa morrer e outro renunciar, guerras, muitas guerras.
Concordo com a Sandy quando ela diz “sou jovem pra ser velha, e velha pra ser
jovem” – colocando no masculino claro. Começo a ter pés de galinha e rugas de
expressão. Eu devia ter me cuidado melhor eu sei, mas essas marcas são o
espelho minha experiência e o que me permitem dizer com orgulho que sou do
tempo que a profissão do McGyver ainda era o perigo.