![]() |
Ginnethon Oliveira Rios (Rochedo) - *06/01/1927 +15/11/2015 |
Todos os dias ele
acendia o candeeiro de lata entre as 3:30 e as 4:00 da madrugada.
Logo o primeiro clarão do fogão à lenha tremulava na telhas vãs
lá da cozinha e em dueto com o galo no poleiro faziam o menino
acordar. O galo não cantava só, outros se juntavam a ele e seus
cantos vinham das fazendas longínquas, as quais sempre sonhei saber
onde eram para um dia quem sabe ir visitar. Antes mesmo de a luz do
dia entrar pelas frestas das janelas do quarto da frente, o cheiro
suave do café pairava por toda a casa, onde pouco a pouco sua
descendência ia despertando esporadicamente. A lajota fria
convidava a andar descalço, mas a mãe, as tias e até mesmo o velho
já me haviam advertido várias vezes para não levantar e pisar no
chão frio com o corpo ainda quente. Mas era irresistível teimar um
pouquinho.
O primeiro encontro
todos os dias era sempre uma nova emoção, ver aquele corpo vivido,
mas ainda não cansado, com sua cabeça calva de finos fios prateados
andar de um lado para o outro entre a velha cozinha e a despensa,
onde pegava o vasilhame metálico do leite. A primeira piada, o
primeiro sorriso de muitos e para muitos no seu dia a dia. Sempre
cuidadoso tentava inutilmente fazer voltar à cama quem já não
tinha sono. Vencido pela teimosia de quem tanto queria sua companhia,
servia-me café numa canequinha descascada de esmalte e saíamos para
o quintal. Com seu chapéu de palha e as chinelas velhas de couro,
passava na casa de farinha onde pegava as cordas de arriar as
vacas.
Curral velho, naquela
época com a cerca toda feita de madeira e enfeitada de netos
pendurados, todos de caneca na mão esperando o leite fresco sagrado
de todos os dias. Tinha que ser aquele tirado na hora, ainda quente e
espumante.
O velho chegava no
terreiro e gritava pela netaiada e em fila indiana desciam para a
horta e ao voltar cada um trazia uma melancia, os maiores duas. A
depender do tempo era batata doce, aipim, milho ou abóbora, mas
sempre uma festa. Se não houvesse balanço, algum neto sempre pedia
e lá ia o velho com uma de suas cordas mais firmes e um pedaço de
pau armar o brinquedo na varanda do fundo ou no pé de cajá. Fazia
tudo por um simples sorriso dos seus. Às três da tarde, sempre em
companhia de algum dos meninos ia apartar o gado e esta era mais uma
tarefa festiva e disputada. Dormia cedo, logo após a novela das
sete, pois seu dia começava antes de o sol sair.
Esse era o velho
Rochedo, Ginnethon Oliveira Rios, um homem de Deus, pai de uma grande
família. Jamais negou uma palavra amiga de sabedoria a quem quer que
lhe procurasse. Seu sorriso sempre espontâneo, seus olhos agudos e
vivos, sua voz sempre calma engrandeciam sua alma, apesar de de seu
corpo pequeno. Um herói que enfrentou diversas enfermidades, sofreu
muitas cirurgias e a todas sobreviveu, até quando muitos de nós
chegamos a perder a esperança. Nenhum apelido lhe caía tão bem
como este: Rochedo.
Mas infelizmente o
rochedo se partiu. A vida, sempre tão cheia de mistérios, de regras
e surpresas, o deixou numa noite de domingo. O Senhor o chamou ao
descanso de suas guerras. Fôssemos nórdicos, crentes da mitologia
dos vikings, eu diria que meu avô chegou ao Valhala e lá foi recebido com festas. Ele se foi e a
sua ausência agora se impõe até o fim de nossos dias. Está sendo
difícil, sempre será. Naquele dia, quando nos reunimos para
nos despedir de seu corpo, todos nós parecíamos uma única pessoa,
a tristeza dominava nossas almas de maneira uniforme e isso vai perdurar. A dor não vai
passar nunca, simplesmente vamos aprender a tolerar sua presença e a
suportá-la, mas o lugar daquele senhor tão amigo, fervoroso e
engraçado ficará vazio.
Mas sua presença viverá em nós, em cada lembrança, nas recordações de suas anedotas, das mirabolantes histórias quer inventava para nos impressionar. Jamais o esqueceremos. Mesmo com a alma lavada em lágrimas e o coração apertado de dor, devemos fazer do sentimento de gratidão algo maior que a nossa tristeza. Sermos gratos por termos convivido com este homem, de termos sido seus descendentes e todos seus filhos, pois ele mesmo dizia: “Os filhos de meus filhos são meus legítimos filhos. E os filhos dos filhos de meus filhos, são ainda meus filhos. Minha coroa, joias de minha descendência”. Filhos, filhas, noras, genros, netos, netas, seus maridos e esposas, bisnetos e bisnetas, a melhor palavra que pode resumir nosso sentimento em relação ao velho Rochedo, é OBRIGADO!
Mas sua presença viverá em nós, em cada lembrança, nas recordações de suas anedotas, das mirabolantes histórias quer inventava para nos impressionar. Jamais o esqueceremos. Mesmo com a alma lavada em lágrimas e o coração apertado de dor, devemos fazer do sentimento de gratidão algo maior que a nossa tristeza. Sermos gratos por termos convivido com este homem, de termos sido seus descendentes e todos seus filhos, pois ele mesmo dizia: “Os filhos de meus filhos são meus legítimos filhos. E os filhos dos filhos de meus filhos, são ainda meus filhos. Minha coroa, joias de minha descendência”. Filhos, filhas, noras, genros, netos, netas, seus maridos e esposas, bisnetos e bisnetas, a melhor palavra que pode resumir nosso sentimento em relação ao velho Rochedo, é OBRIGADO!
2 comentários:
Chorando tanto e tanto!
A saudade é grande demais, mas a gratidão é maior ainda. Agradeço a Deus por ter me concedido nascer neta desse grande homem!
Texto maravilhoso meu amigo, lindo de mais. Meus sentimentos a toda família.
Postar um comentário