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quarta-feira, 10 de abril de 2013

O Foco é Outro

No Brasil, nada está pronto ou prevenido, sempre se espera algo acontecer para tomar providências. As regras de segurança em ambiente fechado por exemplo, sempre existiram, as punições também, mas os batalhões de corpo de bombeiros e órgãos responsáveis esperaram 240 pessoas morrerem no incêndio da boate Kiss para despertarem da hibernação e fiscalizar auditórios e casas noturnas. Outra mania nacional é a de agir sob comoção ou moda, grande exemplo disso é a discussão da legalização da pena de morte ser levantada sempre que ocorre um crime hediondo cuja divulgação alcança patamares midiáticos nacionais - geralmente com pessoas ricas. Mas, crimes hediondos ocorrem diariamente no nosso Brasil varonil, a questão é o foco.
A revista Veja da semana trás uma matéria de capa que reafirma esse mau costume nacional. Com uma foto da cantora Daniela Mercury junto com sua esposa, trás o subtítulo dizendo que ao assumir seu relacionamento homossexual, ela faz da questão da união homo afetiva uma discussão inadiável. Inicialmente isso pode soar como música para alguns ouvidos e barulho para outros, mas a verdade é que o foco da questão é outro.
Não se trata de ser pró ou contra a legalização da união entre pessoas do mesmo sexo e sim o contexto da situação. Se uma questão constitucional é requerida por um grupo, ela é discutida, analisada e aí sim deve ser considerada ou não inadiável. Não é de hoje que o movimento LGBT luta por essa causa e ainda assim a questão deles - pelo menos que eu saiba - nunca foi colocada como inadiável em uma capa de revista do calibre da Veja. Mas, como o que bem dá notícia por aqui é a vida privada dos famosos, uma celebridade resolve sair do armário e torna o assunto inadiável, me poupe.
Mas é lógico que isso soa a favor da luta LGBT e eles seriam tolos se não se aproveitassem para fortalecer-se, até porque a rainha do axé se declarou militante da causa. Mas pra o que eles precisam abrir os olhos é que toda essa discussão do momento não é em prol deles, e sim dela, pois dá notícia, vende jornal e revista e aumenta a audiência.
Para uma famosa que já não dispõe de tantos holofotes, essa conveniente exposição é um ótimo trampolim para voltar a ser notícia. Ferindo o princípio de não repetição de ideias em redação de textos, afirmo: Uma questão deve ser considerada inadiável pela sua importância e pelo histórico de luta, por um bem coletivo e não por que uma famosa quer ser sentir bem publicamente e virar notícia.
Certo é que a decisão dela fortalece um grupo de minoria, mas o foco não é o bem deles e sim vender a informação.

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