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Pablo Rios. Poeta, cronista e contista. |
Eu tinha, ou tenho o costume de
conversar dormindo e às vezes acordado em pleno estado de inconsciência e
atordoamento, coisa que vem a servir de mote para as famosas resenhas em
reuniões familiares.
Conta minha mãe, que um dia, ao
aproximar-se de meu quarto onde eu me encontrava dormindo, ouviu-me falar a
palavra gelândeno. Com certeza riu, pois é muito chegada a uma graça. Anotou em
um papel para no dia seguinte não se esquecer de buscar no dicionário o
significado de gelândeno. Dicionário algum, por mais completo que fosse
conseguiu decifrar o significado dessa expressão, que como todo direito
reivindico como sendo um neologismo meu.
Eu estava dormindo, mas e daí? Fui
eu quem falei, então é meu. Tirem o olho do meu gelândeno.
Heloisa, minha filha, que sempre
aparece com algo novo de fazer rir, outro dia estava traquinando no quarto de
uma de minhas irmãs. A dona do aposento, chegou após um banho e
começou a trocar de roupa na frente dela. Então a miúda, por razões que a
filosofia adulta ignora, olhou para a tia e disse o seguinte: “Uivana”.
- O que é uivana Heloísa?
Quis saber minha irmã. A
garotinha, com seu jeito solene de deboche pueril respondeu:
- Saia da área.
Vai longe essa menina. Mais que o
pai, criador de gelândeno sem significado. Ela concebe a expressão e ainda
dá-lhe um significado que é mais do que uma mera palavra, mas uma oração
completa: Saia da área. Verbo, preposição e substantivo, com sujeito oculto e
tudo. O meu gelândeno, talvez, seja um substantivo acometido de crise existencial,
coitado.
Fossem essas palavras duas pessoas,
eu aconselharia ao meu Gelândeno que tentasse conquistar a Uivana, que minha
filha já inventou como sendo uma mulher resolvida, conhecedora de seus
préstimos e significados. Talvez ela até mostrasse ao coitado o sentido da vida.
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