Um dia chego do trabalho e vou até a casa de minha sogra buscar minha
filha. Depois do costumeiro escândalo que ela sempre faz quando me vê, me saiu
com esta:
- Papai. Amanhã tu me leva às oito horas no cemitério local pra o
sepultamento?
- É o quê menina?
- Amanhã tu me leva...
E repetiu o pedido.
Mas onde já se viu? Uma menina na tenra idade de abaixo dos dez querendo
ir a enterros e velórios! A guria não aguenta ouvir uma nota de falecimento
pelas difusoras da Igreja Católica que já fica se perguntando quem foi e se
pode ir fazer uma visita ao defunto.
Toda morte de ocorre por aqui eu tenho que passar pela chateação dessa
menina me pedindo para ir. Hoje mesmo eu custei a fazê-la esquecer que mais uma
sentinela está a ocorrer na cidade, pois desde cedo que ela me aporrinha na
intenção de lograr autorização para uma visita fúnebre. Quase não adiantaram as
explicações de que velórios são lugares de tristeza. Curiosidade infantil é
dose.
Mas que jeito posso dar se ela não está roubando e sim herdando? E o que
é pior, de mim.
Desde muito novo que eu já comparecia a beira de todo caixão de Cuscucity
para uma rápida olhada. Quando o sino estava tocando para que o falecido
deixasse a igreja, eu já estava descendo a ladeira. Quando o cortejo chegava ao
asfalto, eu já ia chegando ao cemitério. E quando os mesmos seis que tiraram o
caixão da casa estavam entrando eu já havia passeado entre as sepulturas e
relido todas as lápides que eu mais achava interessantes. Tia Rosa costumava
dizer que eu sempre chegava antes do caixão. Verdade. Embora eu não possa me
queixar desse gosto de minha cria, pois é algo que temos em comum, é estranho
para mim enquanto pai ouvir que meu bebê quer ir ao velório.
Ela agora está dormindo em sua caminha, tranquila, tal qual um anjo.
Amanhã sairei para trabalhar e já imagino minha sogra tentando dissuadi-la de
ir ao enterro às oito horas no cemitério local.
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