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domingo, 24 de novembro de 2013

O mar, minha avó e eu

Era uma manhã de domingo em uma praia de Aracaju, janeiro de 2011. Resolvi sair a passear pela areia. Ao anunciar o que faria uma senhora de 87 anos pediu que a esperasse, tirou as sandálias e disse que iria junto comigo. Era minha avó Anelzina que jamais deixou seu gosto por andar descalça na areia úmida da praia. E então seguimos acompanhados de minha filha Heloísa e da filha de meu primo, Eduarda.


Caminhar pela areia da praia é uma atividade tão trivial que talvez nem merecesse uma crônica, mas não quero me ater ao verbo, à atitude e sim ao que simbolizou aquele momento que me trouxe uma emoção tão profunda que dura até hoje, quase três anos depois. Era um momento de retribuição, de uma consumação de troca de presentes delongada por mais de vinte anos.
O presente me foi dado por ela, exatamente em fevereiro de 1989, quando pela primeira vez vi o mar e saíamos pela praia de Mar Grande a catar conchas e molhar os pés. Eu tinha cinco anos. Naquela primeira vez em que fiz castelinhos de areia, minha avó sem saber plantou em mim a semente do romantismo que encharca alguns de meus poemas. Foi um presentão que aquela senhora me deu.
Então aquela caminhada na beira da praia do Sarney em Aracajú entrou na cronologia da minha vida como o dia em que retribuí o presente que ela me deu. Eu levei minha avó até o mar e contemplamos as ondas, sentimos a brisa, e conversamos sobre muita coisa de hoje e de ontem. Falamos sobre nossa primeira temporada na praia, justamente aquela em 1989. Falamos do que comíamos, da rotina, dos passeios e do velho nadador que me impressionava quebrando as ondas, mas que naquele dia já não estava entre nós. Meu avô, Zé Vilaronga.
Ao falarmos sobre ele engasguei um choro e segurei algumas lágrimas por trás dos óculos de sol. Apertei mais forte a sua mão e falei como era bom andar na areia. Que momentos lindos, da primeira vez em que estivemos juntos na praia, ela guiava pela mão um menininho lépido, magrelo e branquelo, que não sabia nada desse mundo. Da segunda vez, um professor, casado, pai, vivido e apaixonado dava-lhe o braço para que ela se sustentasse. Ela não sabe, mas depois que a deixei debaixo do quiosque e me joguei nas ondas tal qual fazia o meu avô, deixei o choro vencer e a emoção me sacudia a cada vaga que passava levando minhas lágrimas.

A vida se faz de trocas de vivências, e esta pode não ter sido a mais importante de minha vida, mas foi uma das mais especiais. Eu não sei como finalizar essa crônica, acho que a emoção me atravancou agora, portanto deixo que você leitor faça seu próprio fechamento e tire suas próprias lições de um escritor que ama a sua avó e tira preciosos ensinamentos até do que ela não diz.

2 comentários:

Bonny Guimaraes disse...

Muito massa Pablo Rios, Parabéns pelo texto e pela Vó!

Pablo Rios disse...

Obrigado Bonny.