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segunda-feira, 5 de maio de 2014

Ei! O interior também é Afro! E é Afro Som!

Quem está acostumado com Olodum e Timbalada pode até estranhar, mas o interiorzão, o semi-árido baiano também faz cultura afro. Engana-se quem pensa que do sertão sai apenas forró e cultura vaqueira, pois a africanidade também chegou até nossa caatinga e nos influencia e inspira tanto quanto  capital e o recôncavo. Aqui na Bacia do Jacuípe, na cidade de Capim Grosso foi plantado um sonho que vem tornando em realidade a mudança social de uma galera bacana. O professor Kleber Andrade, inspirado por um sentimento de negritude concebeu e criou o projeto Banda Reggae Afro Som. Uma iniciativa que por meio da música e da dança promove a cultura afro por onde passa.
E tem passado por muitos lugares. Além de já terem se apresentado em várias cidades da região, o projeto Afro Som foi a Porto Seguro mostrar todo o seu ritmo e já se prepara para ir a Aracaju-SE, mostrar o que é que a baianada tem. Porém, as fronteiras se alargam cada vez mais, a turma do barulho que pensa já tem convite para ir à França no fim do ano, mas enfrenta sérios problemas para alcançar esse feito.
Convidados para se apresentar no FUNCEB Itinerante, o Afro Som deu-me no último domingo amostras de garra, força de vontade e espírito de equipe. Saímos atrasados rumo a Pintadas, cidade onde a FUNCEB realizou o evento, debaixo de chuva para enfrentar mais de cem quilômetros que incluíam estrada de terra. De carona com o professor Kleber, que se tornou um pai de uma legião de quarenta lutadores, fui ouvindo histórias de lutas, inclusive a da premiação como melhor projeto educacional de todo o país em 2013. Uma vitória inestimável não só para o projeto e sua cidade, mas para toda a região do semi-árido que sempre é esquecida nas premiações que geralmente são abarcadas pelo eixo Rio-Sampa.
Já estávamos sacolejando nas costelas de vaca da estrada vicinal quando fomos surpreendidos por uma chuva forte que nos obrigava a ir bem devagar. Até aí tudo bem, até que nos deparamos com um caminhão quebrado, atravessado bem numa curva.
"Desce todo mundo pra empurrar", gritou Kleber para a galera do ônibus. Incrível a liderança carismática do cabra, a turma desceu e logo fizeram uma algazarra, como se empurrar um caminhão na lama de uma estrada de terra fosse a melhor coisa do mundo. E eu lá no meio, todo feliz como pinto no lixo, sujando os tênis e a barra das calças. Logo percebemos que empurrar seria inútil, pois as rodas estavam travadas. Tivemos que fazer a única coisa que poderia possibilitar nossa passagem: arrancar a cerca.
E lá fomos nós remover algumas estacas e postes. Sem danificar nada é claro, pois nossa intenção era chegar ao evento e fazer bonito. E eles fizeram. Com o pouco tempo que lhes foi concedido, eles mostraram que o interior, o semi-árido também sabe fazer cultura Afro. A ginga, o swing, o som do barulho que pensa deixou a plateia e dirigentes da FUNCEB de queixo caído.
Em um rasgo emotivo, vindo de dentro, o professor Kleber falou das lutas do grupo, falou do convite para a França e fez um pedido à FUNCEB. "Não podemos ir representar a Bahia na Europa com instrumentos furados. Não podemos continuar tirando do bolso pra nos manter. Nos ajudem a gente pelo amor de Deus!" Os representantes da FUNCEB ali presentes com certeza voltaram para a Capital tendo um novo olhar sobre a africanidade do interior e certamente pensarão em como ajudar esse projeto fantástico a mostrar que a Bahia é africana em toda a sua extensão.
Depois de um dia emocionante como esse, só tenho a agradecer ao professor Kleber e seus 40 "filhos", por me ensinarem que vale a pena gritar seu canto, cor e raça para o mundo todo ver. Obrigado Afro Som, vocês me conquistaram de vez.









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