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Pablo Rios, Funcionário Público e Escritor |
Não sei como devo começar esta crônica, embora
falar de infância – sobretudo da minha – não me seja algo difícil, mas sempre
que decido escrever, me vem este bloqueio que corta o fluxo de minhas ideias.
Coisas que ocorrem a quem força a inspiração no anseio de escrever sobre algum
saudosismo.
Saudade. Palavra sem tradução em muitas
línguas, privilégio nosso que nos comunicamos através da “última flor do lácio,
inculta e bela”, como disse o ilustre Geraldo Viramundo. Pois é justamente a
saudade que me manda agora ao teclado no ensejo de buscar no bojo da memória
uma recordação. Não foi difícil encontra-la. Outro dia, ao chegarmos na casa de
minha sogra, Heloísa, minha filha, foi agraciada com um pirulito de mel. As
lembranças vieram a cântaros.
A meninada de hoje encontra-se mergulhada
em um mar de privilégios econômicos e desfruta de caramelos, pirulitos, balas,
chocolates e outras guloseimas industrializadas, bem acessíveis e não menos
prejudiciais. Em meu tempo infante não havia desses luxos para os mais
carentes. Um chocolate de marca era um verdadeiro galardão, jujubas eram um
privilégio, sonhos dos menos providos de economias. A inflação era um câncer na
fazenda federal e um furo nos bolsos paternos e maternos.
Mas havia alternativas e uma delas me
chegava aos ouvidos pelas janelas do lado da casa de Vó Anelzina. Era uma festa
para a criançada da região da Praça da Matriz quando os pirulitos de mel de
Maria de Fulô ficavam prontos. Corríamos aos borbotões e nos amontoávamos na
porta da casa dela munidos de moedas. Coisa simples que levava o nome de
pirulito de mel por mera pompa, já que a matéria prima do doce era calda de
açúcar derretido, espetado em um palito de dente, enrolado em papel de
embrulhar pão e enterrado na farinha para endurecer. Era de formato cônico,
bastante pontudo fazendo-se perigoso nas mãos das crianças mais perversas.
Não tinham rótulos e nem eram anunciado na
televisão, mas eram uma delícia, todo mundo gostava e pelo que percebi ainda
gostam. Os pirulitos de mel são um dos poucos ícones culturais de minha terra
que ainda resistem ao tempo e esquecimento. As crianças de hoje tal como as de
ontem os apreciam, pois embora Maria de Fulô já não esteja entre nós, algumas
senhoras ainda os produzem e como era vinte anos atrás, são vendidos
rapidamente.
São simples doces, sem muito valor
mercadológico, vendido a quinze centavos, mas hoje ainda, quando vejo uma
criança com um pirulito de mel, sinto em minha boca o doce gosto da infância.
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