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quarta-feira, 4 de junho de 2014

EDUCAÇÃO... “NÓS PODEMOS FALAR DE FUTURO”.

Para minimizarmos nossas frustrações e angústias, esquecermos por instantes a funesta situação da educação brasileira buscamos sempre,  mesmo que na imaginação,  sonhar com Paulo Freire, quando afirmou: “A Escola é:... o lugar onde  se faz amigos. Não se trata só de prédios, salas, quadros, horários, programas, conceitos... Escola é sobretudo gente; gente que trabalha, que estuda, se alegra, se conhece, se estima. O diretor é gente, o coordenador é gente, cada funcionário é gente. E a Escola será  cada vez melhor na medida  em que cada ser se comporta como colega, como amigo, como  irmãos. Nada de ilha cercada de gente por todos os lados. Nada de conviver com as pessoas e depois descobrir que não tem  amizade a ninguém. Nada de ser um tijolo que forma a parede indiferente, frio, só.  Importante na escola não é só estudar. É também criar laços de amizade; é criar ambiente de camaradagem, é conviver. É se amarrar nela. Ora, é lógico, numa Escola assim vai ser fácil estudar, crescer, fazer amigos. Educar-se e ser feliz”.
         Porém, rebuscando no baú da memória o legado da história da educação no país nele escondido, este revela uma realidade estarrecedora. Começando pelo Brasil Colônia, época esta que a educação como processo sistemático de conhecimento é totalmente indissociável da história da Companhia de Jesus, cujos esforços educacionais eram direcionados aos indígenas com  o intuito de difundir a  crença católica entre os nativos. No transcorrer de quase trezentos anos a população brasileira formada além  dos nativos e colonizadores brancos, recebera um grande acréscimo da numerosa mão de obra escrava oriunda da África. Nesta época grande parte da população não tinha qualquer direito à educação, pois só os homens brancos (mulheres eram excluídas), estudavam nos colégios religiosos ou seguiam para a Europa. Os mulatos até procuravam a escola e os Colégios Jesuítas negavam  a matrícula, porém tiveram que ceder pois recebiam subsídios de “Escola Pública”. Com a chegada da Família Real ao Brasil, a  educação continuou na mesma situação, sem prioridades e sem importância alguma.
         Já do Império o que podemos ressaltar é que em 15 de outubro de 1827 fora aprovada a Lei sobre o “Ensino Elementar”, o qual determinava a criação de “Escolas de Primeiras letras” em todas as cidades, vilas e lugarejos, além  das “Escolas de Meninas” nas cidades mais populosas. Lá pelos anos de 1835 em Niterói fora instalada a primeira Escola para formação de professores com o nome de “Escola Normal de Niterói”. Na época da Primeira República a Educação brasileira sofreria mudanças relevantes motivadas pelos princípios do novo regime:  centralização, formalização e autoritarismo.  Nesta época surgiu o conceito de “Grupo Escolar”, quando as classes deixaram de reunir alunos de várias idades e passaram  a distribuí-los em séries; daí o ensino seriado.
         Mas é a partir de 1930 com a “Era Vargas”, que surgem reformas educacionais mais modernas. Os intelectuais voltaram sua atenção para a educação, já que pretendiam contribuir para a melhoria do processo de estabilização social. Para tanto surgiram novas Leis de Reformas do Ensino com abertura para novos cursos, porém muitos deles objetivando  apenas as melhorias na produção.
         Já em 1964 com o Regime Militar o que se viveu foi o grande aumento do “Autoritarismo”. Considerados subversivos, os movimentos estudantis como a UNE (União Nacional dos Estudantes), foram banidos e  no ano de l969 tornou-se obrigatório o ensino de Educação Moral e Cívica de 5ª à 6ª séries e de Organização Social e Política Brasileira de 7ª à 8ª séries. Também fora criado o vestibular classificatório para o preenchimento de  vagas disponíveis, as quais eram ocupadas  unicamente por alunos de  Escolas Particulares oriundos da Classe alta e média alta, os alunos de Escolas Públicas jamais as conquistariam. Numa manobra escandalosa para acabar com o analfabetismo entre os adultos do Brasil, fora implantado o MOBRAL, que no fundo, não passava de uma fábrica de eleitores.  No Governo “Médice” fora elaborada  a tão famosa Lei 6592/71,  criando a Reforma do Ensino Fundamental e Médio, para tanto foram integrados o antigo Primário com Ginásio e o Secundário com o Técnico. Extinguiu-se a Escola Normal e em l982 com a Lei 7044/82 retirou-se a obrigatoriedade do Ensino Profissionalizante das Escolas de Ensino Médio.
         Com a retomada da Democracia a Constituição de 1988 deu prazo de dez anos para a Universalização do Ensino e a erradicação total do analfabetismo. Criou-se o Conselho Nacional de Educação através da Lei 9131/95. Em 1990 organizou-se o SAEB- Sistema de Avaliação do Ensino Básico e com  a Lei 9424/96 organizou-se o FUNDEF , que dez anos depois foi substituído pelo  FUNDEB.
         Mas na prática, no dia a dia, lá na escola, na sala de aula, o que realmente mudou?  A Educação em nosso país é prioridade para quem? Durante Campanhas Eleitorais, melhor dizendo eleitoreiras, fala-se muito em Educação. Mas depois, esta continua sendo motivo de piadas, de projetos copiados de outras nações e que lá não deram certo, bem como espaço para empreguismo.  Por isso e muito mais é que afirmamos que a Educação no passado em nosso país só nos envergonha. E concordamos em gênero, número e grau com Rui Barbosa quando afirmou: “De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantar-se os poderosos nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”.
         Falando francamente como brasileiros, nos sentimos ofendidos, machucados, humilhados quando na imprensa falada, escrita e até mesmo nas redes sociais são veiculadas notícias sobre a real situação da Educação do Brasil do século XXI.  “Brasil fica em penúltimo lugar em ranking internacional de educação”. Dos quarenta países pesquisados, os que ficaram no topo da lista, são aqueles que valorizam seus professores e colocam em prática uma cultura de boa educação. E no Brasil?
         Os professores são essenciais nas escolas, porém continuam sendo tratados como profissionais de segunda e terceira classe. Quem se importa com os professores? Baixo salário, longas jornadas, condições inadequadas de trabalho, tornam cada vez mais o Magistério menos atrativo. Com freqüência nos deparamos com informes, artigos reportagens afirmando que a maioria dos professores não desempenha de forma eficiente o seu trabalho, mas esquivam-se de informar quais os fatores internos e externos que afetam  a qualidade do trabalho do professor, bem como sua saúde física e intelectual.
         O professor brasileiro é cercado de um arsenal de burocracias. Depara-se diariamente com a  indisciplina escolar, crescente em toda rede pública e privada. No final do mês, percebe um salário defasado, vergonhoso, o qual não supre as necessidades básicas do profissional e sua família.  Comparando o salário do Professor com o de outros profissionais com  o mesmo nível  de especialidades é que vamos entender o porque “Ser Professor” hoje em dia amedronta, afugenta. Enquanto isso, os atuais governantes (executivos, legislativos) apresentam um Piso Salarial Nacional de R$1.697,00 (Um mil, seiscentos e noventa e sete reais) para o professor de jornada de 40 horas semanais. É importante salientar que a maioria dos estados e municípios não o cumpre.  Alguém de sã consciência considera  tal ação como valorização do Magistério? Analise, formule sua opinião justamente.
         Porém existe mais um grande agravante. O que mais tem assustado e preocupado a classe é a insegurança no trabalho e fora dele. Violência moral, psicológica e física, chegando até  assassinatos. Convenhamos, o conjunto das situações apresentadas exerce grande influência sim na qualidade de vida e do trabalho do docente e todo profissional da educação. “Professor é gente!”  O que tem sido feito para amenizar esta situação?  Como não afirmar que a educação no presente nos compromete?
         “A Educação gera conhecimento. Conhecimento gera sabedoria. Só um povo sábio pode mudar seu destino”. Samuel Lima. É lastimável sabermos que no ano de 2013 todo aluno matriculado nas creches em tempo integral deveriam  receber R$8.288,28 (oito mil, duzentos e oitenta e oito reais e vinte e oito centavos) de investimento do governo por ano, porém o FUNDEB destinou somente R$ 2.285,00 (dois mil, duzentos e oitenta e cinco reais), por aluno destas Unidades Educacionais. Já com a Educação Fundamental, o gasto foi de R$ 2.287,87 (dois mil duzentos e oitenta e sete reais e oitenta e sete centavos) por aluno, segundo relatório divulgado pelo MEC ( Ministério da Educação) no DOU (Diário Oficial da União). No Ensino Médio, foram empregados cerca de R$ 2.500.00 (dois mil e quinhentos reais) por aluno, enquanto o índice de qualidade determina pouco mais de R$ 3.000,00 (três mil reais). Incluído nestes investimentos está  o vergonhoso valor da Merenda Escolar para os alunos da Escola Pública que é de R$0.30 ( trinta centavos), isso mesmo,  trinta centavos por dia, por aluno o que implica em R$6.00(seis reais) por mês.  Pasme, para o ano de 2014, o Governo Federal prevê que o FUNDEB deverá repassar pouco mais de R$2.285,57 (dois mil, duzentos e oitenta e cinco reais e cinqüenta e sete centavos) por aluno (menos que em 2013).
         A que ponto chegou a Educação em nosso país! Hoje apenas 06% das Unidades de Ensino apresentam condições avançadas, ou seja, prédios com instalações necessárias e em condições  dignas para atender ao alunato. Porém, a maioria 84.5%, apresenta estruturas elementares ou básicas, isto é, prédios com estruturas razoáveis e equipamentos insuficientes. Destas, 44% apresentam estruturas inadequadas e sem equipamentos ou recursos para atender os alunos. Em geral destina-se a alunos da pré-escola ao nono ano dos municípios pequenos e ou zona rural.
         É triste mais é verdade, a Educação do Brasil está na UTI em estágio terminal avançadíssimo. Será que os vilões realmente são os Professores? Enquanto isso, Presidentes, governadores, prefeitos, legisladores em geral, que muito utilizam Educação como slogan de campanha, passam anos no poder, aproveitando até entrega de certificados, para aparecer nos jornais e TV, mas não utilizam o poder provisório, o tempo e muito menos a sabedoria adquirida através dos conhecimentos orientados, transmitidos pelo professor, para mudar de fato a Educação no Município, Estado e País. Até quando vai ser assim?
         Enquanto os investimentos da Educação não chegam de forma suficiente e integral onde de fato deveria chegar nossos representantes só podem “falar de futuro”, pois o presente os compromete e muito. E é falando somente de futuro que eles pretendem continuar enganando a todos, com manobras eleitoreiras como  “bolsa família, minha casa minha vida, Pronatec, TOPA, entre outros. O que mais vão querer apresentar nestes últimos meses, para enganar justamente aqueles que eles mesmos impediram de estudar honesta e dignamente. Aqueles que derramaram suor durante anos para manter os traidores da educação, da nação no poder, continuam recebendo um salário de fome. Hoje aparecem como cordeirinhos, falando de futuro.  Ora o futuro é uma caixinha de surpresas.  Esqueceram o passado, omitiram-se  no presente, no futuro, colherão os louros que lhes pertence.
         É justamente por isso, que só temos que lamentar deixar transparecer as emoções, mesmo com tom de revolta, de indignação, gritar bem forte que o “PAÍS DO FUTEBOL” , não é contra o esporte, nem contra a copa. Só lamentamos que enquanto as cadeiras das Arenas custaram entre R$13.500,00( treze mil e quinhentos reais) e R$21.000,00 (vinte e um mil reais), mais de sete milhões  de brasileiros(13% dos alunos), estudam em  locais de estruturas  irrelevantes. Além disso, se os R$27.7 (vinte e sete bilhões e setecentos milhos de reais), usados para a organização da COPA DO MUNO DE FUTEBOL – 2014, tivessem sido  aplicados em ESCOLAS,  o Brasil poderia promover o acesso de Três milhões   de crianças de faixa etária que vai dos 4 aos 17 anos às instituições  de ensino. Mas nossos governantes reconhecendo que o presente os compromete e muito diante do provo brasileiro, usa uma máscara de “Bom Samaritano” e preferem falar de futuro.
         No presente, trabalhamos de 02 de janeiro a 31 de maio único e exclusivamente para pagar impostos. Onde está o retorno? A Copa está ai, dura apenas trinta dias. Restará todo o débito para nós os brasileiros pagarmos. A FIFA, as seleções, os turistas chegarão, retornarão, não sofrerão nenhuma conseqüência, a não ser pequenos contratempos com questões de insegurança. Como sempre, receberemos todo peso nas costas. Só aí, toda a cúpula de atuais gestores deste rincão perceberá que a máscara de “país de primeiro mundo” cairá.
         Nós os brasileiros, brasileiros conscientes teremos tempo suficiente para fazermos aflorar nossos genuínos sentimentos, sabem por quê?  Representantes da FIFA, Membros de Confederações, atletas e comissão técnicas de seleções, chefes de estados, turistas não votam no Brasil. Para aqueles que deixaram de  fazer pelos brasileiros quando lhe demos oportunidade diversas e nada fizeram deixamos um recado bem singelo: “A pior ambição do ser humano é desejar colher os frutos daquilo que nunca plantou”.
         Por enquanto clamamos educadamente que os governantes do país promissor, aplique o que for necessário em EDUCAÇÂO, para podermos nos considerar país de primeiro mundo. Pois atualmente só nos resta cantar com o grande poeta ZÉ RAMALHO:  “Tá vendo aquele colégio moço? Eu também trabalhei lá. Lá eu quase me arrebento, fiz a massa, pus cimento, ajudei a rebocar. Minha filha inocente, vem pra mim toda contente, “Pai, vou Mem matricular”!Mas me diz um cidadão, “Criança de pé no chão, aqui não pode estudar”. Essa dor doeu mais forte, Por que é que eu deixei o norte? Eu me pus a me dizer. Lá a seca castigava, mas o pouco que eu plantava, tinha direito a colher”.

São José do Jacuipe, 29 de maio de 2014.

CELSO P. RIOS

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