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terça-feira, 15 de julho de 2014

Para pensar até 2018

Erguida a taça e finda a “copa das copas”, eis que venho expor minha opinião, na certeza de causar certo rebuliço nos brios de alguns. Sempre fui um tremendo perna de pau, do tipo meio a meio (um gol contra para cada gol a favor). Não sou nenhum especialista e tampouco acompanho futebol, a não ser em copa do mundo, e neste quesito sim, sou conhecedor, principalmente em termos históricos, o que me permite sem a empolgação e paixão momentânea, vislumbrar causas com base em dados concretos. Venho então expor minha ótica sobre alguns aspectos de nossa copa, sem pretender tomar lugar de jornalista esportivo.

“Craque”
Durante o jogo contra o Chile pelas oitavas de final, Galvão Bueno, em seu hábito não exclusivo de enaltecer a imagem do Neymar, fez a seguinte pergunta, se não me engano, ao Casa Grande: “quem resolve é o coletivo ou o craque”. Não é preciso ser um perito em futebol para ver que nossa seleção não era Neymar mais dez, e este é, com o perdão pela prepotência em afirmar, o mal de se ter uma estrela em campo.
Não nego a capacidade e o grande talento do rapaz, mas, um time inteiro não pode jogar em favor do brilho de uma pessoa, pois esta palavra, time, deve ser entendida também como equipe, grupo e em alguns casos, família. Sem falar que, a seleção brasileira estava representando um país inteiro e não um jogador só. Portanto, não é o craque e sim o coletivo que deve resolver, pois para que a estrela brilhe ao marcar o gol decisivo de uma partida, uma jogada precisou ser construída. É até infantil falar isso, mas é fisicamente impossível que o Neymar estivesse ao mesmo tempo nas onze posições, como querem dar a entender alguns locutores, comentaristas e jornalistas. O menino joga bem sim, no entanto, jogadores de igual e superior talento já usaram a camisa amarela, ele não é o primeiro e nem será o último craque e toda a propaganda e “tietagem” em cima dele não passam de exagero. Neymar é um copo pequeno para tanta tempestade e seu desenvolvimento na copa do mundo foi bom até o fim da primeira fase, pois nas suas duas últimas partidas ele mais atrapalhou que ajudou. Tentava resolver tudo, não tocava para ninguém quando pegava a bola, mesmo seus colegas estando sozinhos e em boas posições. Jogou para si próprio e não pela seleção. Sua lesão – mais tempestade em copo d'água – apenas o tirou de uma partida onde foi um homem a menos desde o começo. Que me perdoem os fãs, mas é a verdade.

“Apagão”
Para quem acredita que a ausência de Neymar causou o “apagão” ou desequilíbrio psicológico que levou a seleção canarinho ao massacre das finais, é bom ter em mente que não jogamos contra grandes potências até a semifinal. Sim, colaborou, mas o garoto seria apenas mais um craque humilhado em campo.
Quando se falar em grande seleção de copas do mundo, sem dúvida alguma o nome do topo é a Alemanha, e isso não é porque venceu, mas qualquer um que conheça a trajetória dos mundiais, saberá que o pentacampeonato brasileiro, bem como a participação em todas as copas do mundo não é o suficiente para nos colocar no topo dos topos. Os alemães participaram de 18 das 20 copas, ausentes apenas em 30 e 50, e quase sempre chegaram entre as quatro melhores. Única seleção a nunca ser desclassificada na primeira fase, maior semifinalista, maior finalista. Deixando de lado algumas edições, de seu bicampeonato em 1974 para cá, apenas em 1994 e 1998 eles não estiveram entre os 4 melhores. Terceiro em 78, vice em 82, vice em 86, campeões em 90, vice em 2002, terceiro em 2006 e 2010.
Sou brasileiro e torço para minha seleção seja qual for a situação, mas não posso ser passional ao ponto de não reconhecer que com este currículo e a preparação feita nos últimos oito anos que a seleção alemã realmente mereceu o tetracampeonato. Em suma, vencer a Alemanha em uma copa do mundo é um feito dos grandes e perder dela é absolutamente normal para qualquer seleção.

País do Futebol
Ainda temos este título e não vai ser o massacre do “minerazo” que destruirá tudo o que fomos e somos no futebol. Mas é necessário reconhecer que estamos em uma safra pobre de amor à camisa. O conformismo e a zona de conforto dada pela nomenclatura de país do futebol é o que tem feito a seleção cair de rendimento. Quem tem mais ou menos trinta anos para cima, vivenciou momentos de glória, quando fomos para três finais consecutivas, das quais vencemos duas, porém, o topete marqueteiro estragou a copa de 2006, quando os patrocinadores escalaram nossa seleção, a qual eram recheado de estrelas buscando seus recordes individuais, ensimesmados como semideuses imbatíveis que chegam ao cúmulo de tranquilamente ajeitar um meião durante uma jogada perigosa. Em 2010, de novo, uma seleção mal preparada, que levou muita propaganda para a África e esqueceu o coletivo e trabalho de grupo em casa. Aqui, em nossas terras, no acomodamos com fator casa, maioria de torcida e vimos diante de nossos olhos, uma outra seleção levar a taça, como foi nos dias de 50.
Estávamos mais frágeis diante de uma seleção no momento superior, mas ainda somos umas da quatro grandes campeãs, das quais todas só estiveram fora de uma final. Ainda somos pentacampeões, mas somos pentacampeões que tem que aprender a jogar o futebol com foco e objetivo. Jeito malandro deve ser apenas uma característica e não estratégia de jogo, temos que aprender a tocar a bola e não querer definir tudo sozinho, afinal de contas, futebol se joga em time. Temos que aprender a ser o país onde o futebol é levado a sério como esporte, profissão e não simplesmente como meio de faturamento e engorda de contas bancárias de cartolas e canais de TV. Precisamos ter nossos novos craques por mais tempo e não simplesmente entregá-los aos europeus como no passado entregamos nossas riquezas por espelhinhos e pentes. Temos que ser o país do futebol, onde a mídia burguesa não determine o horário dos jogos para depois da novela.

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