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segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Zipief


Pablo Rios é escritor e poeta







Nesse período que me encontro em Salvador, saí diversas vezes para ruar. Na primeira vez que saí, foi para prestigiar meu camarada das letras, Georgio Rios em uma leitura pública de suas obras no complexo cultural dos Barris. Peguei um ônibus em frente ao hotel em que estava hospedado na Pituba e segui caminho. em um ponto ali no Rio Vermelho, sentou-se ao meu lado um fulano todo esquisito metido em um terno em pleno calor soteropolitano, usando óculos tartaruga e um penteado parecido com o daqueles nazistas brancões: cabelo raspado na base e partido de lado. Permaneceu calado.

Eis que sobe um vendedor e começa sua propaganda. Extrator de suco de laranja. Daqueles parecidos com um funil que a gente enfia na laranja e aperta ela. O sujeito se interessou pelo produto e me perguntou em um sotaque ibérico qual era mesmo o preço do aparelho.
- Dois reais - respondi. Ele comprou um.
Meu bicho carpinteiro me fez tanta raiva que acabei perguntando ao distinto de onde ele é.
- Italiano - respondeu e nesse exato momento eu percebi que havia me arrependido de abrir minha boca.
O carcamano abriu uma torrente de frases e histórias que fez todo mundo olhar para nós - ou pelo menos foi assim que me senti. Ele gesticulava juntando todos os dedos da mão e desmunhecando, trejeito que eu achava ser lenda e falava desenfreadamente. Entre as muitas coisas que ele falou e as poucas que eu entendi é que a Itália está completamente falida, pior que a Grécia, e que garantia ser isso verdade pois era bancário lá antes de mudar-se para Salvador. Dizia ele que a dívida que o país da bota divulga na mídia hoje é uma projeção de como o país estará daqui a trinta anos e que qualquer título que o governo de lá venda tem cem vezes menos o valor que apresenta. Causa: a corrupção política. Acorda Brasil - il - il - il!
Depois falou que foi demitido no banco por ter se recusado a favorecer um chefe da máfia e que após meses de pressão psicológica, não aguentou e fugiu pra cá, que segundo ele é bem melhor pois os criminosos aqui matam de uma vez e não fazem essa pressão. Iludido esse menino. Entre as informações dele fiquei sabendo que alguns chefes mafiosos da Itália estão escondidos aqui no Brasil e inclusive em Salvador e antes de parar de falar disso, alfinetou nosso governo por ter acolhido o terrorista Cesare Battisti.
Foi então que ele falou de seus problemas pessoais angariados aqui, e depois de dizer que a Receita Federal é criminosa e que está sem conseguir trabalho, culpou o Zipief. Falou coisas terríveis (lá no idioma dele) sobre esse tal de Zipief, que logo imaginei ser algum dos mafiosos que o perseguiram. Mostrava-me papéis grampeados com algumas coisas digitadas e manuscritas. Que tinha ido várias vezes a algum lugar ai tentar resolver o problema mas o diabo era o Zipief. E eu pensava cá comigo vez ou outra que esse talzinho do Zipief é muito é sacana.
Ele gesticulava e falava e acenava com a cabeça como se me perguntasse: E aí? e sempre finalizava com um: "Capiche?". Bem, eu ficava na minha fazendo de conta que estava capichando tudo e foi aí que eu entendi tudo. O pobre havia caído no conto do vigário, foi fazer um serviço com alguém e lhe venderam gato por lebre. Quando entendi? Justamente quando ele falou que não conseguia laboro por estava com o Zipief clonado. Olhando o papel e vendo uma sequência numérica eu compreendi que ele se referia ao CPF. Fizeram pra ele um documento clonado, o CPF de outra pessoa.
Aí, para por fim ao discurso dele, seu ponto chegou ali perto da Lapa e desceu. Não sabemos os nomes uns dos outros, mas além das informações que ele me deu sobre seu país, aprendi que o Zipief pode causar muitos prejuízos.
Já ia me esquecendo, também comprei o extrator de suco de laranja.

2 comentários:

Anônimo disse...

Cuidado com o Zipief! kkkkkkk

Julho disse...

Ahahahahaahhaha.
Muito massa Pablo.