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General Garrastazú Médici, ditador, violento, assassino, vamos banir seu nome de nossa cidade |
Saúdo aos nobres vereadores com votos de estima e
consideração. Hoje vos escrevo na intenção de lembrar a todos de um tempo negro
que assolou nosso país durante 21 anos. Me refiro ao regime militar, iniciado
com um golpe que derrubou o Presidente João Goulart, datando 50 anos agora em 1
de abril.
Reconheço que a situação política de nosso país está
passando por uma inversão de valores, onde a copa e imagem de salvadores da
pátria é mais importante que a educação, que a saúde e a segurança. É por conta
desses desmandos que um grupo de acéfalos está pedindo uma intervenção militar
no Brasil. Para os que não sabem o que pode ocorrer caso essa estapafúrdia
ideia tenha êxito, trago algumas lembranças do que é uma intervenção militar e
algumas coisas que ocorreram quando houve a última.
Ao assumirem o poder em 1964, os militares cassaram
os direitos políticos de muitas pessoas em nosso país. Perderam-se os direitos
de fazer oposição e críticas ao governo. A arte passou a ser censurada, pessoas
a serem interrogadas cada vez que davam suas opiniões. Com o passar dos anos, o
regime militar endureceu sua mão de ferro e quem fazia oposição ou era suspeito
de tal ato passou a ser expulso do país, exilados, impedidos de entrar em sua
terra natal. Outros foram sequestrados e mortos. Muitos ainda estão
desaparecidos quase trinta anos após o fim do regime. Pessoas eram presas e
torturadas apenas por dizerem o que pensavam.
Todas essas monstruosidades foram acobertadas pelos
políticos e perdoadas pela abominável lei da anistia, que absolvia todos os
participantes das barbáries cometidas pelo regime militar. Essa loucura que
adoeceu nosso país começou a enfraquecer quando o jornalista Vladimir Herzog
foi enforcado na cadeia e o Governo Geisel espalhou a notícia de que ele havia
se suicidado. Mentira! O povo descobriu e foi para as ruas cada vez mais
pedindo o fim daqueles desmandos.
Tenho certeza de que quem lembra realmente como eram
aqueles tempos não vai querer de volta uma chaga tão podre e fétida em nossa
história. Mas existem pessoas que estão iludidas, pensando que a volta da
ditadura militar seria a cura para a política doente que impera em nosso país.
Vivemos dias de liberdade vigiada, onde abutres esperam nossas palavras para
usá-las a fim de nos perseguir, sentimo-nos como se não tivéssemos o direito de
ser oposição, de votar em quem queremos, mas não podemos deixar que tempos
assim voltem em nível nacional.
Conquanto, nossa luta deve começar em nossa cidade,
mostrando ao povo brasileiro que não somos a favor de nenhuma espécie de
ditadura. Há em nossa sede municipal uma rua que tem o nome de um dos
presidentes da ditadura militar. Rua Presidente Médici. Um homem que em seu
governo ficou conhecido como o mais duro de todos, o que mais exilou, torturou
e matou pessoas. Entre elas, a estudante Nilda Carvalho Cunha, que durante
meses foi brutalmente torturada pelo governo Médici, e veio a falecer aos 17 anos
em decorrência dos maus tratos que sofreu, sendo ainda ameaçada por seu
torturador quando estava em seu leito de morte. Não podemos homenagear com uma
rua um assassino, um sanguinário que cerceou vidas e feriu direitos humanos.
Não podemos ter em nossa cidade uma lembrança de um tempo onde as pessoas eram
escravas da vontade de governantes tiranos.
Minha petição é que os nobres vereadores mudem o
nome da Rua Presidente Médici, e de qualquer outra do município que levem nomes
da época negra do país, chamada ditadura militar. Não vos peço, na verdade imploro
que retirem de nossa cidade essa lembrança maldita da ditadura militar.
Sem mais, apelo para suas consciências de
legisladores livres: Por favor, deem-nos a sensação de liberdade das memórias
negras que ainda existem no Brasil. Deus conceda a todos saúde e discernimento.
Atenciosamente,
Pablo Rios
Escritor
São José do Jacuípe –
BA, 23 de março de 2014
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