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domingo, 23 de março de 2014

Você é a favor de uma intervenção militar? Leia.

Atualmente uma ideia tem se formado para o medo e prejuízo. Acreditem ou não, algumas pessoas estão pedindo uma intervenção militar no país. Mas a tradução para intervenção é golpe. Sim, há exatos 50 anos, o presidente Jango foi desposto pelas forças armadas e então se seguiram 21 anos de ditadura, torturas, mortes, sumiços e censura. Para as pessoas que estão sendo usadas por quem quer que esteja tentando tomar o poder e oprimir o povo, trago uma história triste, absurda sobre uma jovem de 17 anos que foi assassinada pelos chacais governo Médici.
Se você é da banda podre que imbecilmente acredita que um governo militar é a solução para o país, leia e tire suas conclusões, tenha ou não você um espírito de porco.

NILDA CARVALHO CUNHA (1954-1971), MORTA PELA DITADURA

Nilda Carvalho Cunha foi presa na madrugada de 19 para 20 de agosto de 1971, no cerco montado ao apartamento onde morreu Iara Iavelberg. Foi levada para o Quartel do Barbalho e, depois, para a Base Aérea de Salvador. Nilda foi liberada no início de novembro do mesmo ano, profundamente debilitada em consequência das torturas sofridas. Morreu em 14 de novembro, com sintomas de cegueira e asfixia. 

"– Você já ouviu falar de Fleury? Nilda empalideceu, perdia o controle diante daquele homem corpuloso. – Olha, minha filha, você vai cantar na minha mão, porque passarinhos mais velhos já cantaram. Não é você que vai ficar calada [...]. 
– Mas eu não sei quem é o senhor... 
– Eu matei Marighella. Ela entendeu e foi perdendo o controle. Ele completava: – Vou acabar com essa sua beleza – e alisava o rosto dela. 
Ali estava começando o suplício de Nilda. Eram ameaças seguidas, principalmente as do major Nilton de Albuquerque Cerqueira. Ela ouvia gritos dos torturados, do próprio Jaileno, seu companheiro, e se aterrorizava com aquela ameaça de violência num lugar deserto. Naquele mesmo dia vendaram-lhe os olhos e ela se viu numa sala diferente quando pôde abri-los. Bem junto dela estava um cadáver de mulher: era Iara, com uma mancha roxa no peito, e a obrigaram a tocar naquele corpo frio. 
No início de novembro, decidem libertá-la. [...] Na saída, descendo as escadas, ela grita: – Minha mãe, me segure que estou ficando cega. Foi
levada num táxi, chorando, sentindo-se sufocada, não conseguia respirar.
Daí para a frente foi perdendo o equilíbrio: depressões constantes,
cegueiras repentinas, às vezes um riso desesperado, o olhar perdido. Não dormia, tinha medo de morrer dormindo, chorava e desmaiava. – Eles me acabaram, repetia sempre [...]."

Em 4 de novembro, Nilda foi internada na clínica Amepe, em Salvador [...] No mesmo dia, os enfermeiros tentaram evitar a entrada do major Nilton de Albuquerque Cerqueira em seu quarto de hospital, mas não conseguiram. Na presença da mãe, ele ameaçou Nilda,
disse que parasse com suas frescuras, senão voltaria para o lugar que
sabia bem qual era. O estado de Nilda se agravou, e ela foi transferida
para o sanatório Bahia, onde faleceu, em 14 de novembro. No seu
prontuário, constava que não comia, via pessoas dentro do quarto, sempre homens, soldados, e repetia incessantemente que ia morrer, que estava ficando roxa. A causa da morte nunca foi conhecida. O atestado de óbito diz: “edema cerebral a esclarecer”.

(Trecho do livro Direito à memória e à verdade: Luta, substantivo feminino Tatiana Merlino – São Paulo: Editora
Caros Amigos, 2010.)

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